A casa como cárcere

os desafios da concessão da prisão domiciliar para mães e gestantes no Brasil

Palavras-chave: Encarceramento feminino, Criminologia Crítica, Acesso à Justiça, medidas alternativas, direitos humanos

Resumo

De acordo com a legislação brasileira, a prisão domiciliar consiste no recolhimento do acusado em sua residência, sendo uma espécie de medida cautelar que deve ser substituída em face da prisão preventiva, quando a agente for gestante ou mãe de criança de até 12 anos incompletos. No entanto, tal medida não tem sido amplamente utilizada pelo Poder Judiciário, implicando em evidente limitação aos interesses dessas mulheres e de suas famílias. Em decorrência disto, o presente trabalho tem como objetivo compreender os desafios relacionados a concessão da prisão domiciliar para mulheres no Brasil, bem como os impactos da atuação dos operadores de direito na manutenção do encarceramento feminino tradicional. Para tal, a metodologia foi desenvolvida a partir de pesquisa bibliográfica e documental, de natureza qualitativa, utilizando como pressuposto teórico a Criminologia Crítica. Após a análise dos dados obtidos, percebeu-se que há pouca aplicação do instituto para mulheres no Brasil e que as narrativas que permeiam os discursos dos operadores de direito possuem cunho valorativo e moral. Desse modo, foi possível concluir que o acesso à justiça segue seletivo e perverso e que a prisão domiciliar não é concebida como direito público subjetivo, mas como mero benefício que está sujeito à discricionariedade dos agentes do Judiciário.

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Biografia do Autor

Laís Gabrielle Batista da Silva, Universidade Federal da Paraíba

Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos, Cidadania e Políticas Públicas da UFPB. Advogada. Pesquisadora vinculada ao Laboratório de Pesquisa e Extensão em Subjetividade e Segurança Pública da UFPB.

Nelson Gomes de Sant'Ana e Silva Junior, Universidade Federal da Paraíba

Doutor em Psicologia. Professor Associado do Departamento de Ciências Jurídicas e Vice-coordenador do Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos, Cidadania e Políticas Públicas da Universidade Federal da Paraíba. Líder do Laboratório de Pesquisa e Extensão em Subjetividade e Segurança Pública (LAPSUS/UFPB).

Rebecka Wanderley Tannuss, Universidade Federal da Paraíba

Professora do Departamento de Fundamentação da Educação da Universidade Federal da Paraíba. Doutora em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Coordenadora do Laboratório de Pesquisa e Extensão em Subjetividade e Segurança Pública (LAPSUS).

Referências

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Publicado
2024-11-19
Como Citar
Silva, L. G. B. da, Silva Junior, N. G. de S. e, & Tannuss, R. W. (2024). A casa como cárcere. Revista Da Defensoria Pública Do Distrito Federal, 6(2), 291-307. Recuperado de https://revista.defensoria.df.gov.br/revista/index.php/revista/article/view/250