A guarda compartilhada em contexto de violência doméstica e familiar

breve análise à luz do filme “Jusqu'à la garde”

Palavras-chave: Instituto da Guarda, Violência Doméstica e Familiar, Lei Maria da Penha

Resumo

A violência de gênero contra as mulheres (cisgêneras e transexuais) configura-se como um problema social, grave e complexo, atingindo-as por inúmeras formas e meios, sendo, consequentemente, responsável pela alta taxa de mortalidade do público feminino. A partir desse cenário, Tratados e Convenções Internacionais foram realizados no intuito de eliminar toda forma de discriminação contra mulher. No Brasil, o principal marco legislativo é a Lei nº 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha, estabelecendo mecanismos para coibir os crimes praticados em decorrência do gênero. No entanto, os desdobramentos de tais condutas não se limitam apenas à seara penal, transmutando-se à seara cível, principalmente vinculados aos direitos das famílias. Sob essa perspectiva, o presente ensaio visa discutir a relação jurídica estabelecida nas disputas de guardas dos filhos em contextos de violência doméstica e familiar contra as mulheres e/ou descendentes, à luz das problemáticas apresentadas no filme “Jusqu'à la garde” de 2017. Portanto, para a elaboração do presente estudo optou-se, a priori, pela análise crítica do mencionado filme. Aborda-se a inter-relação entre o instituto da guarda e os casos de violência doméstica e familiar, apresentando os cenários jurídicos da implantação dos Juizados Especiais e da comunicação entre as varas competentes na falta deste.

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Biografia do Autor

Emerson da Silva Mendes, Universidade Federal do Sul da Bahia

Advogado. Mestrando no Programa de Pós-graduação em Estado e Sociedade (PPGES/UFSB), Pós-graduando em Direito Constitucional Aplicado (Legale – 2023). Pós-graduando em Direito em Execução Penal (CEI – 2023). Especialista em Direito e Processo Penal (UniAmérica - 2021), Especialista em Gênero e Sexualidade na Educação (UFBA - 2020), Bacharel em Direito (UFSB - 2021). Bacharel em Humanidades (UFSB - 2018). Dedica-se aos estudos dos Gêneros e Sexualidades com ênfase nas áreas da Criminologia, Violência e Segurança Pública, Cárcere e Direitos Humanos.

Thiago Trindade de Almeida, Universidade Federal do Sul da Bahia

Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Estado e Sociedade (PPGES/UFSB). Pós-Graduando em Direito Penal e Criminologia (IBCCrim) em parceria com a Faculdade CERS. Bacharel em Direito (UFSB - 2021) Bacharel em Humanidades ( UFSB - 2018). Membro do Grupo de Pesquisa Pluralismo Jurídico e Usos Emancipatórios do Direito. Membro do Programa Permanente de Extensão em Direitos Humanos (PExDH). Âmbito de pesquisa nas áreas de Direito Penal, Processual Penal e Criminologia, desenvolvendo estudos acadêmicos voltados, principalmente, à dogmática penal e à política criminal de drogas.

Ceila Sales de Almeida, Universidade do Estado da Bahia

Doutora em Estado e Sociedade (UFSB). Mestre em Direitos e Garantias Fundamentais (FDV). Especialista em Direito Constitucional (UGF) e Direitos Humanos Internacionais (UniBF). Bacharel em Direito (FACISA). Professora Substituta da Universidade do Estado da Bahia, Campus XVIII - Eunápolis. Advogada OAB-BA 27351 com especialização em Inventários e Regularizações de Imóveis. Integrante do GP Direito, Sociedade e Cultura da FDV. Parecerista na Revista Científica da Defensoria Pública de São Paulo e Revista do TRF1. Pesquisadora nas áreas de Direitos fundamentais, Direito Constitucional e Direito Imobiliário e Notarial.

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Publicado
2022-12-27
Como Citar
Mendes, E. da S., Almeida, T. T. de, & Almeida, C. S. de. (2022). A guarda compartilhada em contexto de violência doméstica e familiar. Revista Da Defensoria Pública Do Distrito Federal, 4(2), 11-33. https://doi.org/10.29327/2193997.4.2-2