Gênero, raça e classe na produção social da loucura

Palavras-chave: loucura, gênero, raça, classe, patologização

Resumo

O presente trabalho visa tratar da loucura sob uma perspectiva crítica e interseccional, objetivando avaliar de que maneira elementos de gênero, raça e classe foram significativos para a definição do conceito de loucura a partir do movimento higienista do século XIX. A importância do tratamento da referida matéria se dá, primeiramente, pelo fato de que o gênero, a raça e a classe são fatores ainda hoje invisibilizados na compreensão do “louco”, em especial no âmbito jurídico. A relevância da abordagem se manifesta, também, em virtude de ainda se manter viva, nos dias atuais, a patologização das diferenças. Quanto ao objetivo proposto, a metodologia da pesquisa aqui eleita é do tipo explicativa, direcionada a desvendar as razões de o público-alvo dos hospitais de custódia diferir pouco daquele selecionado pelo Estado para compor seu cárcere. Portanto, trabalha-se com a seguinte hipótese “o projeto de reurbanização da belle époque nos legou uma política de segregação da diferença, direcionada a encarcerar representatividades de gênero, raça e classe não majoritárias, ainda que pela justificativa do cuidado e tratamento em hospitais”.

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Biografia do Autor

Mariana Ferreira Diniz, PUC-SP

Advogada, professora, bacharela em Direito pela Universidade Mackenzie-SP, mestra pelo programa em Educação: História, Política, Sociedade (2019) da PUC-SP, bolsista CNPq, onde investigou a história do ensino jurídico no Brasil, foi aluna especial do programa de doutorado em Direito Penal, Medicina Forense e Criminologia da USP (2019), aluna especial do programa de doutorado em Direito público da UFBA (2023), integrando grupos de pesquisa em criminologia crítica e direito penal. Participou do curso de Especialización en Derechos Humanos y Estudios Críticos del Derecho da CLACSO (2017). Adicionalmente, é graduada/ licenciada em Letras Vernáculas com Língua Estrangeira pela Universidade Federal da Bahia (2008) e possui especialização em Docência do Ensino Superior (2012).

Daniela Portugal, Universidade Federal da Bahia

Advogada criminalista, Doutora em Direito Público pela Universidade Federal da Bahia, é professora colaboradora do curso de Especialização em Ciências Criminais da Fundação Faculdade de Direito da UFBA; da Escola de Magistrados da Bahia (EMAB); da Pós-Graduação da Universidade Católica do Salvador (Ucsal); da Pós-Graduação do Centro de Estudos Jurídicos de Salvador (CEJUS); da Faculdade Baiana de Direito (FBD); da graduação e da Pós-Graduação da Universidade Salvador (UNIFACS). É membro do Instituto Baiano de Direito Processual Penal (IBADPP); do Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito no Brasil (CONPEDI) e da Comissão de Defesa do Concurso Público da Ordem dos Advogados do Brasil - Seção do Estado da Bahia (OAB/BA), tendo sua atuação voltada principalmente para os seguintes temas: Direito Penal; Penal Econômico; Processual Penal; Execução Penal; Criminologia e Vitimologia.

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Publicado
2024-05-17
Como Citar
Ferreira Diniz, M., & Portugal, D. (2024). Gênero, raça e classe na produção social da loucura. Revista Da Defensoria Pública Do Distrito Federal, 6(1), 61-89. https://doi.org/10.29327/2193997.6.1-4
Seção
Artigos